segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

BIOGRAFIA DE HORTENCIO - ERNESTO

ERNESTO MAGNAVITA (HORTÊNCIO)

Por Manuel Costa Magnavita. (Neto de Ernesto)

                                       Os Magnavitas chegaram a Canavieiras em 1891, em primeira leva, entre tios, irmãos e primos, logo após a Lei Áurea que dava a libertação dos escravos em 1888. Chegaram com os primeiros imigrantes italianos para substituir a mão e obra escrava e incrementar a tecnologia agrícola e cultura européia entre os gentios, senhores de engenho, coronéis do cacau e escravocratas, entre eles: Francesco Joseph (Chichilo), Vicentino Magnavita, Hortencio (Ernesto) Magnavita e outros todos vieram no navio “Citta de Genova” até o Rio de Janeiro: de Salvador para Canavieiras, via Camanu, chegaram no vapor da Bahiana cujo comandante era Antão. Todos estes chegaram primeiro a Canavieiras e com exceção de Hortencio e Martino (Agostinho) os demais foram para Belmonte.
                                        Em segunda leva, entre 1895 a 1898 aportaram em Canavieiras com destino a Belmonte; Benino e seu filhos Luciano e Pasquale,  Ercole (Herculano), Alessandro e o filho Salvatore, Luigi (Luis) com os filhos Domingos e Vicente . As mulheres parece que vieram e voltaram para Paola.
                                        Os italianos agricultores, como eram os Magnavitas, tinham no quadro familiar por cultura e religiosidade, a “nona” (avó) e a “mama” (mãe). A devoção à espiritualidade dos Santos, principalmente São Genaro e Boaventura e pela ternura da presença feminina nas decisões do lar.
                                        Os Magnavitas são descendentes de Paola, cidadezinha no sul da península italiana que na época da imigração, por motivos políticos, teve a sua classe de agricultores atingida pela pobreza do descaso governamental. Os lideres da época voltaram-se para a industrialização, seguindo o modelo Inglês e Alemão.
                                       Magnavita é um nome composto: magna e vita que significa “grande vida” ou “vida longa”no sentido de longevidade e não magnanimidade ou magnatas como querem alguns. Eram camponeses cujo trabalho era um exercício constante na em suas vidas. O vinho era um complemento alimentar e pela alegria como uma correta atitude de vida ornada pelas belas musicas e danças ítalas.
                                       Poucos italianos que imigraram para o Brasil vieram para o sul da Bahia.
                                     Os Magnavitas como outros italianos destacaram-se entre os pioneiros, na firmeza da vontade, no idealismo realizador, no esforço bandeirante e na ideologia edificadora. Basta citar que a idade mínima para imigrar da Itália era de 18 anos, então o caçula da família italiana Ernesto Magnavita exatamente com 16 anos imigrou com a certidão do seu irmão, Ercole Magnavita (Herculano) por vir desacompanhado dos seus pais e tal como Abrão que mudou seu nome para Abraão e fundou um povo diante da tenacidade do sonho e força da persistência. Hortencio Magnavita nasceu em 24.12.1867 morou com a família em Canavieiras, hoje com raízes em Salvador, Rio de Janeiro e muitos outros municípios do Brasil.
                                      Os Magnavitas junto com os Belmontes, os Paternostros, os Minervinos, os Madeiras, os Sabinos, os Miralhas, Scovino, Sarnos, Laroca, Campana e tantos outros praticamente fundaram Belmonte e alavancaram o progresso e o desenvolvimento de Canavieiras. Contribuíram para novos rumos e conceitos ao estabelecimento cultural dos Vieiras e Gentios quer pela religiosidade quer pela musica, festividades, danças, alegria e hábitos alimentares, moda e comercio.
                                        Como  curiosidade, devo abrir um parêntese e destacar os Magnavitas e outros demoravam por volta de 30 dias para a travessia do Atlântico Sul. Nesse percurso foram duramente atingidos pela cólera, devido a falta de higiene dos embarcados. Os navios vinham com imigrantes até nos porões, não muito diferente dos navios negreiros que trouxeram os escravos para o Brasil. Em absoluta pobreza esses heróis ainda tiveram que sofrer a quarentena no Rio de Janeiro antes de cada um seguir os seus destinos.
                                         Foi nessa quarentena que Hortencio reconheceu uma menina alegre de nome Thereza, filha dos Matera (Madeira) com destino ao sul da Bahia em busca do ouro verde, o cacau, enquanto a maioria seguiria para os cafezais paulistas e para a uva e vinhos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O sucesso dessas culturas eram mais certas nos estados de clima frio. Thereza Madeira nascida em 1881, irmã do saudoso João Madeira, veio muito jovem em companhia dos pais e foi registrada civilmente como nascida na cidade do Rio de Janeiro. Como tivessem vindo da mesma cidade de Paola é de se presumir que este casal já houvera se encontrado antes talvez por volta dos dez anos dela e dos 16 dele que cinco anos após a pede em casamento.
                                          Assim em Canavieiras no dia 25.01.1892 aos 21 anos, Hortêncio Magnavita filho de Salvadore Magnavita e de dona Maria Francesca Condino de Paula na Itália e Thereza Bela Madeira de 15 anos, filha de Salvadore Matera e de dona Philomena Bela Matera da cidade de Paola depois de preenchida as formalidades legais casaram-se e constituíram família de 12 filhos: Eduardo Magnavita casado com Morena Magnavita Ribeiro; Ernestina Magnavita Freitas casada com Otto Maia Freitas; Alzira Magnavita Menezes casada com Waldemar Magalhães de Menezes; Amélia Magnavita de Mello casada com Augusto Mello; Antonio Magnavita casado com Valdice Magnavita Maia; Adélia Magnavita Ribeiro(Dede) casada com Antonio Alves Ribeiro; Alfredo Magnavita casado com Ednair Costa Magnavita; Edith Magnavita(Didi) casada com  Erico Silva; Waldemar Madeira Magnavita(Vavá) casado com Iraci Madeira Magnavita e em segunda núpcias com Maria de Lurdes de Araújo Magnavita ; Helena Magnavita ; Jose Magnavita (Zezinho) casado com Stela Weber Magnavita.
                                          Hortêncio homem de ação e denodo, de coragem e visão criadora assim que chegou a Canavieiras a par dos serviços do cacau e através de seus irmãos na Itália, desenvolveu junto as tarefas agrícolas a profissão de Mascate, espécie embrionária de representante de vendas ou corretor de negócios. Fornecia entre muitos produtos de um empório nascente: a casimira inglesa; o linho e o chapéu panamá; roupas, toalhas de mesa e banho italianas, sapatos importados da Europa; artigos finos e de acabamento; vendia o querosene como fonte de luz e muitos outros bens de alimentação, vestuário e consumo.
                                          Entre tantos serviços prestados por Hortêncio Magnavita a cidade de Canavieiras quer pela beleza exuberante e clima sedutor ainda conquistou a sua alma; o desenvolvimento comercial; o fortalecimento do porto; a construção dos velhos sobrados do porto que hoje constituem a beleza e atração da cidade histórica força tarefa herdada por seu filho Antonio Magnavita; o melhoramento da agricultura do cacau e o esforço para armazenamento e melhorias para exportação; armazéns na zona do cais do porto. A herança do trabalho agrícola coube ao filho Eduardo Magnavita. O comercio de roupas, sapatos, secos e molhados coube aos filhos Jose e Alfredo Magnavita. O estudo e a formação em medicina foi tarefa do filho Waldemar que reside no Rio de Janeiro. As mulheres em numero de sete, seguiram o curso Normal tornando-se professoras e depois o curso Universitário principalmente para Amélia Magnavita Mello respeitada e conhecida em Salvador como mestra qualificada e do mais alto porte humanitário.
                                     Hortêncio, meu avô emprestava dinheiro a juros regulares e, segundo o meu pai Alfredinho, não tinha a ganância do lucro. O objetivo era acima de tudo de proporcionar o capital necessário aos investimentos dos canavierenses, pois na época as exigências do cadastro eram grandes por parte das “Casas Bancarias” pequenas e incipientes. 
                                     Hortêncio como capacidade comercial, educacional e visão européia colaborou junto ao Dr. Antonio Salustiano, intendente, político de prestigio e força para propor os sepultamentos no Cemitério Público fundado em 1892. Esse cemitério sofria a concorrência do Cemitério da Irmandade Cristã desprezado em virtude da crença religiosa do corpo ”guardado” junto a igreja para facilitar a ressurreição quando da volta de Jesus. O que ele pretendia era evitar o risco de cólera e do mau cheiro que cercavam as igrejas e suas capelas.
                                    Hortêncio não se dedicou à política, porem, gozava de prestigio e força junto aos intendentes e políticos locais. Ele influenciou as autoridades para a construção da cadeia pública em 1900 e o belo prédio onde se instalou a Biblioteca Municipal.
                                    Hortêncio enquanto homem de negócios, mesmo jovem e recém chegado contribuiu e auxiliou a construção do magnífico prédio da Prefeitura levado a cabo pelo Dr. Salustiano Viana em 1899. Auxiliou na administração municipal para anular o antagonismo dos adversários e críticos locais que o classificavam como “obra-faraonica”. Sempre em busca da higiene como prevenção da saúde lutou para melhoria e construção de um matadouro moderno.
                                    Hortêncio entre muitos, de 1912 a 1932 contribui com esforço e recursos para a construção da Igreja Matriz de São Boa Ventura. O Santo Padroeiro de Canavieiras é também Italiano.
                                     Meu pai Alfredo Magnavita retrata o amor de Hortêncio por Canavieiras como seu torrão natal de coração. Com uma caligrafia elogiada por todos Alfredo respondia as cartas de meu Avô como verdadeiro escrivão. As cartas vindas da Itália, a maioria de sua mãe que escrevia mensalmente, rogava seu retorno a Paola entre lagrimas e soluços. Ele era o filho caçula, o filho da velhice, o grande amor do coração da “mama” Maria Francesca que o queria de volta. No final de sua vida D. Maria Francesca sentou-se numa cadeira em frente à porta dizendo que havia sonhado com o filho retornando devido a tanta saudade e desejo de rever o seu “bambino”. Hortêncio jamais retornou a Itália porque fincou raízes em Canavieiras, a viagem era longa, perigosa e cara. 
                                      D. Maria Francesca Condino morreu sentada em uma cadeira em frente à porta da rua de sua casa que por exigência dela, não era fechada em nenhuma hora do dia ou da noite havia meses, na espera da volta do filho. Este fato ficou registrado na cidade como “o afetivo coração da mama de Paola”.
                                       Hortêncio Magnavita faleceu em 14.5.1947 cuja lapide se encontra em Canavieiras e quase um ano depois, Thereza em 24.6.1948.   

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